Pitaya, cacau, mirtilo, avocado hass e romã são alguns tipos de frutas que até pouco tempo eram pouco conhecidas pelo consumidor cearense. Cenário que vem mudando ao longo dos últimos anos com a realização do projeto Culturas Alternativas do Governo do Ceará. A iniciativa, viabilizada por meio da Agência de Desenvolvimento do Estado (Adece) em parceria com a Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), tem o objetivo de incentivar novas opções de cultivos com maior valor agregado na produção agrícola.
“O projeto é fruto de um esforço conjunto para o desenvolvimento de ações que viabilizem tecnologias de produção com baixo impacto ambiental para o cultivo de novas culturas pelos agricultores locais. Em 2021, a Adece investiu mais de R$ 1,5 milhão em pesquisas, testes e capacitação dos produtores cearenses interessados no cultivo de culturas alternativas”, explica o presidente da Agência, Francisco Rabelo. Para 2022, a Adece prevê um aporte de R$ 3,8 milhões apenas para o setor de agronegócio no Estado.
Com um melhor valor agregado e maior eficiência no uso de água para a produção, as novas culturas já podem ser encontradas em várias regiões do território cearense. A pitaya é um exemplo desses novos cultivos e já ocupa mais de 120 hectares plantados no Estado. Parente direto dos cactos, a fruta se adapta perfeitamente ao clima local e chega a consumir em sua produção em torno de 50% a menos de água que a banana. Com a adesão cada vez maior de novos produtores ao seu cultivo, a pitaya cearense começa a ganhar o mercado externo, registrando exportações para o Canadá e alguns países da Europa.
“Precisamos repensar algumas estratégias para incrementar a produção agrícola local para além do que tradicionalmente já vinha sendo trabalhado. Nesse ponto, realizamos alguns estudos que apontaram culturas que, além de proporcionarem um bom retorno financeiro aos produtores, também oportunizam um maior número de empregos e renda no interior do Estado”, acrescenta Rabelo.
O uso de tecnologia na produção intensiva de caju anão é uma outra iniciativa incentivada pelo projeto que tem registrado um aumentado da produtividade de 10 a 20 vezes. “Antigamente, o caju era plantado como floresta: se desmatava uma grande área para a plantação de mudas e depois se esperava a época da colheita. Com o cultivo de caju anão de forma intensiva, passamos a usar mudas de clones desenvolvidos pela Embrapa, que duram mais tempo in natura; também adotamos o uso da irrigação; a poda e a adubação mais precisa”, detalha Erildo Pontes, coordenador de Recursos Hídricos para o Agronegócio da Sedet. A adoção dessas técnicas ampliou o tempo de colheita do caju de três para seis/sete meses por ano, ampliando o volume por produção de 200 kg para 2.000 kg ao ano.
De acordo com o secretário-executivo do Agronegócio da Sedet, Silvio Carlos, dos 1,5 milhão de hectares (área média anualmente cultivada no Estado), apenas 5% representam a agricultura irrigada – da qual fazem parte as novas culturas. “Apesar de compor uma pequena parcela do nosso território cultivado, a agricultura irrigada gera quase metade do Valor Bruto da Produção (VBP) do Ceará. Se conseguíssemos aumentar sua representatividade de 5% para 10%, por exemplo, o seu VBP agrícola passaria para aproximadamente 70%. Diante disto, o objetivo do Estado é apoiar e incentivar cada vez mais a melhoria das culturas presentes em nosso território aumentando a sua área de cultivo, seu valor agregado e melhorando a eficiência do uso da água”, explica Silvio.
O mirtilo e o avocado hass (espécie de abacate menor) são outras culturas que já estão em implantação no Ceará e que chegam a ter um valor de mercado que gira em torno de R$ 40 a R$ 50 por quilo. Neste mês de fevereiro, estamos colhendo a primeira safra de mirtilo do Estado em Ubajara, na Serra de Ibiapaba. Estão previstos para o primeiro semestre de 2022, a realização de novos seminários de capacitação de produtores voltados para o cultivo do mirtilo e o avocado nas regiões do Cariri, Russas, Baixo Acaraú e Ibiapaba.
Ao todo, a Adece está executando dez projetos especiais em parceria com a Sedet nas áreas de agronegócio; trabalho e empreendedorismo; comércio, serviço e inovação. Em 2021, a Agência investiu cerca de R$ 8 milhões para a execução de tais iniciativas. A projeção é que a primeira fase dos trabalhos envolva o investimento de cerca de R$ 60 milhões em recursos.